domingo, 27 de maio de 2007

Meras coisas.


Porque a única coisa que ela esperava, mesmo. Segurando uma mão com a outra, apertando-as em si... Esperava.
Parecia que em qualquer momento ela o veria aparecendo ali no início da rua.
Era engraçado, porque ela sabia que ele havia partido, mas sua presença ainda, fortemente, acalentava-a.
Sobre se queria saber sobre o dia, sobre se estava bem. Sobre saber se o cão se acostumou com a nova ração ou se ela havia conseguido preparar um novo prato.
Sentia sua perda, como parte de si.
Mas o fato de não estar mais presente não a fazia deixar de senti-lo. Revirava as cartas. Não sentia a tristeza, nem a alegria. Era uma satisfação, como quando comprava flores para enfeitar sua mesa!

Como as meras coisas que se vão, e que somente depois de partirem notamos que não estavam inseridas de maneira tão invisíveis como pensávamos, nem pequenas, nem tolas. Era a vida, era um pedaço de si mesmo.
E as outras triviais, você nem nota, nem da conta da perda... Somente se recorda, como as recordações são. Pregam peças.

A rua, à noite, vazia. Sereno e vento frio, que bagunçavam seus cabelos presos no alto com aquela fivela de borboleta, que ganhou de presente no último aniversário.
No alto, via duas estrelas.
E a lua.
E a fivela. E ela. O casaco escuro encobria-lhe metade de si. E parecia ali no escuro não estar ali. Sentia precisão e fazia desta forma, e não precisava saber de mais nada, porque acreditava que isso era assim.

Depois as pessoas desviam o olhar das coisas quando o coração começa a querer contar alguma história, ou sentir algum sentimento.
Foi uma interrupção de lirismo tão imensa e rápida. Oras, via a lua e a luz e acabou, e chega disso de olhar e sentir. Precisa a vida seguir em frente, porque o trabalho, e a casa, e as contas...
Parece que o mundo é tão raro, e ainda não se faz por merecê-lo.

"tem uma hora que não pode mais ficar com você, entao você devolve, e fica vazio..."

http://www.youtube.com/watch?v=fQ3wpjdYMqk&mode=related&search=


Por que você se sente sozinha? Por que você não me dá sua mão? Porque fazemos as perguntas e não temos respostas! Não nos sentimos sozinhos, temos tanta gente, e tantas caras para podermos parar, e olhar e pensar... É muito bom fazer observações de semblantes. Interpretar sonhos. Interpretar gestos - ações. Coisas estranhas, o dia-a-dia. As pessoas.
Porque depois então vale mais pensar no que vale mais. Enganados ou não. Pensamos.


http://www.youtube.com/watch?v=skaST0xtGeg

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