quinta-feira, 1 de março de 2007

E isso é muito estranho.

E assim domesticaram frases. Feitas.
Colocaram todos os seus pertences que nunca os pertenceram sobre uma mesinha, pequena.
Ficaram se entreolhando (os pertences e a mesa).
Ficou o espelho que refletia toda essa cena. E ficou você, sentado na poltrona ali do lado, pensando sobre isso tudo.
E parece que um tem significado para o outro. O outro.
O que a gente precisa, o que a gente precisa? Nós podemos não precisar.
Mas a gente precisa, deixe-me acreditar! A gente precisa!
Precisa entrar nesse sufoco, absurdo, feliz! Oras, precisa.
Depois precisa sair e acreditar, como se os desenhos já estivessem todos prontos e a rotina não fosse assim tão cruel conosco.

Você era uma certeza tão estranha que nunca se tinha, mas sempre existia por um instante a pequena impressão de te perceber.
Era a ordem mais correta da incoerência.
Era uma transparência de um jeito possível. Até sumir.
Faltava uma inspiração que aquecia. Depois ele se esquecia. E agora falta, mas me esquecia. E todos estavam ali, e percebiam. E todos pensam da mesma forma, exceto as exceções.
Na casa, ali, levava o dia que se fazia. Faltava uma inspiração que era morna e que existia, mas bem pouco se admitia.
Depois ele se esquecia.
Em formas delicadas e espontâneas. Forma-se.
Formou-se o inteiro pedaço da parte de um pequeno espaço que se permitiu deixar de ser.
Eu fiz a facilidade do desenho ser uma expressão de algo. Alguma coisa estava ali, e eu desenhei coisas de várias cores, meu amor, até em azul. Desenhei a mentira para esquecer. Desenhei uma máscara de cara feia, desenhei uma máscara com um sorriso.
Enquanto eu me chorava, sorria. Enquanto eu sorria, eu sorria. Enquanto a máscara de cara feia fazia seu uso, eu sorria.

Tinham luzes que piscavam forte por entre aquela multidão com expressões tão peculiares, eram risos estranhos. Era exagero, então a gente foi parar no meio do nada, juntos, separados, cada um dentro da sua solidão.
Aquele beijo não era seu, não podia ser meu.
E a história não se completa. Depois ambos se esqueciam, querendo lembrar novamente.

Acordo com a confusão da insônia. A noite passou lenta. O papel do poeta eu deixei ali ao lado do travesseiro, e dormi com a caneta nas mãos. A noite passou lenta e quem escreveu não fui eu... meu sonho me leu enquanto eu adormecia, persistindo vencer a insônia.
Leram em mim, mas que seja mentira. E o sonho acreditou em mim, agora ele pensa e é mentira. Mas sei do sonho, sei da verdade.

E você olhou nos olhos de quem te amaria com mais sinceridade. Entregou ali a chave do passado, e foi caminhando por um campo de flores bem pequenas. E caminhou até sumir.
E foi consigo o seu sonho, para fazer os dias que os dias pediam para acontecer. Levou consigo outra chave, mas ficou perdida no bolso daquele casaco de estações que sempre demoram muito para retornar.

http://www.youtube.com/watch?v=Yc-POnyWFHA
/Isso é muito estranho, filho, isso é muito estranho.
Deixei aqui um papel em branco, com espaços que estão sendo preenchidos.
Filho, isso é muito estranho/

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