quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Disseram sobre decretos e proibições.


E corrigiram aquelas linhas de um português bem mal escrito, mas parecia ser tão bonito.
Corrigiram os soluços, decretaram que soluços não podiam mais existir. Nem soluços e nem parênteses.
(Então colocamos parênteses)
E soluçamos, ah, choramos os soluços e depois nos sentimos aliviados.

Decretaram que todas as pessoas deveriam ser felizes.

Todas elas gostavam de brincar de roda, e todas elas um dia pensaram:
“O sol nasce laranja, e parece ser tão quente, só que lá fora ainda é frio... e depois ele fica amarelinho e parece uma moeda dourada de vinte e cinco centavos; depois ele vai embora e quando ele tá sumindo, escorrega lá até onde a gente consegue ver, escorrega no céu azul porque as estrelas começam a aparecer, e ele vai deixando uma mancha lilás. É estranho porque azul com amarelo... devia ficar verde”.

Depois decretaram que não podiamos usar as aspas.
“As aspas são irônicas” – Disse alguém muito chato.
Mas às vezes as pessoas se enganam. Às vezes as pessoas não percebem as coisas. Antes de não gostar das aspas, saiba se você realmente não precisará delas.
Então as aspas foram permitidas novamente, mas com uso moderado.

Depois decretaram que as pessoas devem pensar as coisas numa sequencia lógica. Então este texto não tem sequencia lógica, propositalmente, cada trecho é um trecho. Este trecho não precisa do outro trecho, assim como nenhum outro trecho precisa deste.
Mas um trecho olha para o outro. Às vezes sente ódio porque gostaria de ser igual. Às vezes ama porque é igual.

É assim que funciona. Você gosta das coisas que são parecidas com as coisas que você gosta, ou pensa. Se a coisa não gostar de você, você vai continuar gostando, e é bom gostar de gostar. Eu gosto.

Mas as coisas. Não podemos contar a ele, nem contar com ele. Não podemos, apesar de querermos. Nao podemos omitir e nem mentir. Temos de ser sinceros, falar o que pensamos e o que sentimos. Temos depois de ponderar.
Só que quando chega a hora de ponderar, o que tinha pra ser dito já foi dito, justamente porque o trecho do ponderar só apareceu depois do trecho do dizer. Se tivesse sequencia lógica no meu texto, primeiro teriamos ponderado, e depois não teriamos dito (claro).
Algumas coisas são feitas para que nunca sejam ditas.

Como daquela vez que saiu de casa e esqueceu de colocar o coração no bolso. Não podia amar ninguém. Saiu sem dizer nada.
Todas as mulheres o juravam amor eterno, e ele acabava sem o amor de ninguém, e não tinha mais graça.

Depois saiu por ai fazendo proibições e restrições.
Proibiu a si fazer outros decretos, então se tornou mudo para sempre.


http://www.youtube.com/watch?v=ck8ExlI6Puc
(tá, eu sei, o vídeo é péssimo... mas a ideia dos links é só pra enfatizar as músicas... )

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